De onde surgiu o apelido Preto Jóia?
Preto Jóia – É que eu trabalhava numa empresa de diamantes, fabricando pedras preciosas.
E o gringo ficava só me perturbando, “Ô preto, cadê a jóia?, Ô preto cadê, a jóia?” e os colega
que estavam ali falavam: “Ô preto, cadê a jóia, Preto Jóia?”. O apelido pegou e eu agradeço a
um grande amigo e ao gringo por isso.
E o grito "Dá licença..."?
Preto Jóia – Na verdade, surgiu no segundo ano que puxei pela Imperatriz Leopodinense.
Eu achava que tinha que ter alguma coisa forte para que me identificasse na Marquês de
Sapucaí.
Qual foi seu melhor momento na Avenida?
Preto Jóia – Sabe que tive vários pela Imperatriz Leopodinense, mas a volta ao carnaval
do Rei de Janeiro, o primeiro ano cantando na Porto da Pedra, acho que foi um momento
inesquecível no carnaval, "Serra Acima, Rumo à Terra dos Coroados", em 2002.
Dá uma palhinha?
Preto Jóia – "...Natureza
Os nativos coroados
Sinais de rica cultura
A densa neblina cobre a mata
O ciclo do ouro ao barroco nos levou
Dom Pedro Primeiro
Com essa terra se encantou..."
Intérprete ou puxador, o que você prefere?
Preto Jóia – Aquilo que você achar melhor. Não adianta eu falar que sou intérprete, se o
povo me chama de puxador.
Além de intérprete ou puxador, você também é compositor. Quais
são os sambas que você já ganhou?
Preto Jóia – “Liberdade, liberdade! Abra as Asas Sobre Nós”, 1989; “Terra Brasilis, o que
se Plantou Deu”, 1990; “O que É que a Banana Tem?”, 1991 e “Quase no ano 2000...” ,
1998, todos pela Imperatriz.
Esses sambas eram melódicos. Está faltando melodia nos sambas
de hoje?
Preto Jóia – Eu acho que a melodia e a cadência levam a escola a fazer um grande desfile.
Você tem que passar essa cadência para a bateria e para os componentes. Com correria
você não chega em lugar nenhum.
Qual o samba que você gostaria de ter puxado na Avenida e não
puxou?
Preto Jóia – “Valeu Zumbi, o grito forte dos Palmares... “ e por aí vai, Vila Isabel, carnaval
de 1988.
O intérprete pode criar uma identificação, como o Jamelão da
Mangueira, o Neguinho da Beija-Flor, pois eles nunca saíram dessas escolas. O que
você tem a dizer sobre, por exemplo, você, que já foi da Imperatriz e de outras escolas
aqui no Rio? Você acha que isso tira um pouco da identidade ou deve-se ser
profissional mesmo?
Preto Jóia – Não, o trabalho hoje é profissional. Se eles se mantêm nas escolas deles é
porque estão se sentindo bem profissionalmente. Eu acho que o samba hoje é como o futebol,
tem vários jogadores que jogam em outros times, mas têm o time deles de coração. Então,
eu acho que não deixam de ser profissionais. É como eu. Hoje eu posso ter minha escola
de coração, mas profissionalmente sou Porto da Pedra, pela qual eu luto, brigo e dou meu suor.
Você quando está jogando futebol e passa por um e passa por outro,
pede “dá licença” pra poder passar com a bola?
Preto Jóia – Quando peço “dá licença” os caras dão pancadas, eles não deixam passar não,
eles metem o pau.
Houve algum momento ruim?
Preto Jóia – Não tive momento que não foi legal, eu só tive momentos bons e espero
continuar tendo grandes momentos daqui pra frente.
Quantos Estandartes de Ouro você já ganhou?
Preto Jóia – Dois Estandartes de Ouro, em 1989 e 1993.
O que você diria para uma pessoa que gostaria de ser intérprete
de uma escola de samba? Qual conselho você daria?
Preto Jóia – Primeiro, tem que ter o dom de cantar. Depois, tem que ter humildade,
respeitar o próximo, tentar a sorte na Marquês de Sapucaí e ser agraciado por Deus.
Você fez algum curso de canto?
Preto Jóia – O curso é a vida, é o conhecimento, é viver diante de grandes intérpretes,
cantar como Jamelão, Dominguinhos do Estácio, Neguinho da Beija-Flor. Eles foram
os meus gurus e foi com eles que aprendi muito e pretendo passar para cantores da
Porto da Pedra aquilo que eu aprendi.
Preto Jóia – Tem vários puxadores, Jamelão, Dominguinhos, Neguinho... Já teve
Aroldo Melodia, que está parado, e Ney Vianna, que faleceu.
Você se espelha em alguém?
Preto Jóia – Já me espelhei antes, agora eu me espelho em mim mesmo. Antes
eu me espelhava no Neguinho da Beija-Flor, na forma de cantar, se vestir, na garra,
na pegada do Neguinho e na voz do Jamelão. Esses me deram o tempero pra eu poder
fazer aquilo que tenho de melhor na Avenida.
Antes do desfile, como é o preparativo para a voz?
Preto Jóia – Eu faço o que é primordial, descansar a voz.