Cantora interpretou novas composições e antigos sucessos de sua trajetória. Participação especial de Zeca Pagodinho.
Beth Carvalho
Beth Carvalho ao Vivo no Parque Madureira (2015) (87’) – Após mais de quatro décadas de carreira, Beth Carvalho sobe ao palco para lançar seu novo trabalho. Gravado na Zona Norte do Rio de Janeiro, o espetáculo foi assistido por milhares de moradores do bairro de Madureira.
Com direção de Bruno Murtinho, a atração é uma coprodução entre Canal Brasil, o Selo Andança e a Som Livre. A sambista contou com as participações especiais da sobrinha Lu Carvalho e de Zeca Pagodinho.
A cantora optou por registrar uma apresentação renovada misturando músicas inéditas e antigos sucessos de sua trajetória. Fazem parte do repertório canções como O Show Tem Que Continuar, Nosso Samba Tá na Rua, Pandeiro e Viola, Senhora Rezadeira, Ô Isaura, Coisa de Pele, Lucidez, Tendência, Se a Fila Andar, Camarão que Dorme a Onda Leva, São José de Madureira, Deixa a Vida Me Levar, Arrasta a Sandália, Parada Errada, Meu Lugar e Caciqueando. Entrando no clima de Carnaval, a intérprete fez também um pot-pourri de marchinhas tradicionais, como Pierrot Apaixonado; Mamãe Eu Quero; Yes, Nós Temos Banana; A Jardineira; Me Dá Um Dinheiro aí; Índio Quer Apito; Marcha do Cordão do Bola Preta e Cidade Maravilhosa.
A banda que acompanha a anfitriã é formada pelo maestro Ivan Paulo, criador dos arranjos e regente dos músicos Carlinhos Sete Cordas (violão de sete cordas), Charlles da Costa (violão de seis cordas), Dirceu Leite (sopros), Fernando Merlino (teclados), Paulinho da Aba (pandeiro), Pirulito (percussão), Márcio Vanderlei (cavaco e banjo), Valtinho (bateria), Beloba (tantã), Álvaro Santos (repique de mão) e Tcha Tcha Tcha (surdo), além das vocalistas Clarisse Grova e Jussara Lourenço.
O show expõe a longa relação da compositora com Madureira. O bairro é considerado o berço do samba carioca e um verdadeiro celeiro de bambas que sedia duas importantes agremiações: a Portela e a Império Serrano. Suas raízes concentram ícones de grande relevância para a história do gênero. A performance traduz a emoção de estar num lugar tão carregado de tradição.
“Sempre tive uma relação muito boa com os sambistas de Madureira, de onde vieram duas escolas de grande porte, Portela e Império Serrano. Você sabia que fui a sambista que mais gravou sambas da Portela?”, indaga a mangueirense Beth, que já torcia pela Verde e Rosa quando pisou pela primeira vez em terras portelenses. “Fiquei encantada. Ia na casa da Tia Doca, nos pagodes da Tia Surica, que mora numa vila deliciosa. Na quadra da Império também foi assim. O samba só briga na avenida, porque ele é união o ano inteiro.”
‘O público queria me ver de qualquer jeito. Frida Kahlo pintou deitada, e se precisar, canto assim também!”Foto: Guto Costa / Divulgação
É difícil de imaginar, mas Beth nunca morou na Zona Norte. Criada entre Ipanema e Botafogo, ela frequentava, na juventude, “festas regadas a champanhe, uísque e caviar”. Começou na música apaixonada pela bossa nova. Mas desde cedo frequentava o subúrbio e corria atrás do samba.
“O Sergio Cabral (jornalista) diz que eu sou o Túnel Rebouças, por unir Zona Norte e Zona Sul”, brinca. E sempre foi assim. “Meu pai era um intelectual de esquerda, um homem muito simples. Entendia meu fascínio pelo samba. Desde pequena, eu ia a Marechal Hermes e Cascadura, minha mãe tinha amigas lá. E ia de trem! Imagina se alguém da Zona Sul anda de trem?”, espanta-se Beth. “Conheço a Zona Norte melhor do que muita gente de lá. E a região está mais orgulhosa de si.”
Chega a hora de falar de ‘Ao Vivo no Parque Madureira’, que traz sucessos das rodas, como ‘O Show Tem que Continuar’, ‘Pandeiro e Viola’, ‘Coisa de Pele’, ‘Meu Lugar’ e ‘Senhora Rezadeira’ misturadas a recentes canções, como ‘Estranhou o Quê?’ (Moacyr Luz) e ‘Parada Errada’ (Rogê, Rodrigo Leite e Serginho Meriti), cuja letra é o depoimento da mãe de um viciado em crack. “Todo mundo aplaudiu essa música. E cheguei a achar que ela era de difícil entendimento, acredita? Sinto que ela tem algo de ‘Meu Guri’ (de Chico Buarque, que dava voz à mãe de um morador do morro envolvido com o crime).”
‘Ao Vivo no Parque Madureira’ tem duas participações afetivas e especialíssimas: a sobrinha de Beth, Lu Carvalho, em ‘Devotos do Samba’, e o afilhado Zeca Pagodinho, em ‘Deixa a Vida me Levar’, ‘Ainda É Tempo Pra Ser Feliz’ e ‘Arrasta a Sandália’ (esta, feita pela filha de Beth, Luana Carvalho, e por Dayse do Banjo).
“A Luana tem um trabalho bonito, vai sair em breve. Vocês vão ver”, diz Beth. “A Lu sempre foi sambista, a levava para as rodas desde cedo. E o Zeca é o rei! Quando o levei comigo para o ‘Fantástico’ para cantar ‘Camarão que Dorme a Onda Leva’, ele teve que aprender a dublar. Fingiu que estava tocando cavaquinho e cantando. E ele hoje é um veterano!”, orgulha-se.
Beth gravou o DVD sentada, cuidando da coluna após um ano de cama devido a complicações de uma cirurgia. “O público queria me ver de qualquer jeito, sentada, deitada.... Frida Kahlo pintou deitada, e, se precisar, canto assim também!”
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