Novo álbum de estúdio do compositor, ‘América, Brasil’, chega às lojas na semana que vem
A beleza do mundo, “produzida por milhares e milhares de compositores”, empurra Ivan Lins a não parar de fazer música. Seja Milton Nascimento ou Coldplay, o que não falta é inspiração para ele se debruçar sobre o piano e compor mais uma canção.
E, se os 70 anos de idade estão aí, batendo à porta (o aniversário, em 16 de junho, será comemorado com um show fechado para família e amigos, na Miranda), eles não encontrarão um homem voltado ao passado — mesmo que glorioso, de canções gravadas pelos maiores intérpretes da MPB (a começar por Elis Regina , que o lançou em 1969, com “Madalena”) e do jazz (Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald, Dianne Reeves). Encontrarão, isso sim, um compositor inquieto, cheio de projetos e de novas parcerias (entre elas, com o rapper português Agir, com quem gravou a canção “Talvez um dia”), confiante de que a internet “ainda vai ser muito boa, inclusive para a música de qualidade”.
Esses novos parceiros são outras cabeças, que abrem a minha — conta Ivan, que inicia hoje as celebrações da série “viva Ivan” ao participar, às 20h, do show que o cantor João Senise faz, na Sala Cecília Meireles, para lançar o CD “Abre alas — Canções de Ivan Lins”.
Na semana que vem, chega às lojas “América, Brasil”, novo álbum de estúdio de Ivan, que ele começou a planejar no ano passado, não para celebrar os 70 anos de idade, mas os 40 de parceria com Vítor Martins, letrista de boa parte dos seus sucessos.
— Queria fazer um disco com as nossas canções inéditas e com as que foram gravadas por outras pessoas, principalmente cantoras — explica. — Mexendo nisso, lembramos de muitas músicas que ficaram perdidas nos meus álbuns, os meus lados B. Algumas delas vão soar inéditas porque entraram em discos que nem venderam direito.
Entre as realmente inéditas, o destaque vai para “Luxo do lixo”, samba encomendado em 1981 por um bloco de carnaval, de mesmo nome, surgido nas areias do Leblon, onde Ivan morava.
— Os donos do bloco brigaram, ele não desfilou, e o samba ficou guardado até outro dia.
Entre os lados B, está “Coragem mulher”, que Ivan e Martins fizeram para Marli Pereira Soares, empregada doméstica que, em 1979, viu policiais militares entrarem em sua casa e executarem seu irmão, Paulo. A música foi gravada no LP “Um novo tempo”, de 1980, mas, segundo Ivan, “passou batida”.
LADO FEMININO DAS CANÇÕES
Outro resgate promovido pelo disco (que Ivan gravou de forma caseira, acompanhado apenas pelo multi-instrumentista Marco Brito) é “Joana dos barcos” (do LP “Chama acesa”, 1975), canção que, por sinal, servirá de inspiração para um balé — o primeiro de Ivan, que, para o espetáculo, comporá canções com Martins. A obra estreia em setembro, com a Companhia de Ballet da Cidade de Niterói, no Teatro Municipal da cidade.
“América, Brasil” ainda celebra o lado feminino da composição de Ivan e Martins — tema que é alvo, aliás, de um documentário a ser lançado neste ano. “Cantor da noite” (gravada por Leny Andrade), “Voar” (por Simone) e “Enquanto a gente batuca” (samba da dupla em parceria com Nei Lopes, registrado por Beth Carvalho e que, segundo Ivan, “fala muito sobre o que estamos vivendo hoje”) são algumas dessas canções femininas de um álbum que, bem de acordo com a tradição do artista, tem um quê político.
— Eu não consigo fechar um projeto sem dizer algo — diz Ivan, um ativista que prefere “bater nas causas, e não nas consequências”. — Não tenho nada contra a Dilma, ela pegou um rabo de foguete que o próprio partido dela armou. Não acredito que ela seja conivente, mas cabe a ela mudar isso. Uma presidente não pode governar apenas para o seu partido.
Defensor da tese de que não é certo mandar recolher judicialmente livros com os quais não se concorda, Ivan ganhará em 2016 sua primeira biografia — autorizada e puramente musical —, feita pela pianista e pesquisadora Thais Nicodemo (“uma vez eu procurei uma professora de piano, e ela se recusou a me dar aula. Ela adorava o que ouvia, mas achava pavoroso o que via, um assassinato de técnica”, conta esse pianista autodidata).
Antes disso, deverão sair o novo show e o DVD com o violonista Toquinho e, em novembro, um CD de canções caipiras da dupla que fez com o cantor e compositor Rafael Altério.
— É um disco muito emotivo, com letras da Rita, mulher do Rafael. Acho que vai ser uma novidade — aposta ele, que deve começar a trabalhar em seguida num CD com seus fados, gravados por vozes portuguesas como Carlos do Carmo e Cuca Roseta.
É uma grande mistura de Brasil e mundo que, segundo Ivan Lins, o faz ser quem é.
— Bem pequeno, morei nos Estados Unidos e, quando voltei para o Brasil, fui para a chácara do meu avô, que adorava fados. Então, a primeira cantora que eu escutei aqui foi Amália Rodrigues. Eu achava que aquilo era música brasileira! — diz um dos mais internacionais nomes da MPB.
Fonte: O Globo
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