Os jovens diretores do cinema brasileiro têm investido ultimamente, com sucesso, no suspense psicológico. Depois de filmes complexos como O Lobo Atrás da Porta e Para Minha Amada Morta, o 44º Festival de Cinema de Gramado traz O Silêncio do Céu, nova produção do cineasta Marco Dutra.
O drama se mistura com suspense e terror ao narrar a história de uma mulher vítima de estupro (Carolina Dieckmann). O marido (Leonardo Sbaraglia) flagra a cena mas, paralisado, não faz nada para interrompê-la. Depois disso, a dupla carrega os seus segredos: ela não diz nada sobre o que sofreu, nem ele revela o fato de ter sido testemunha. O silêncio passa a corroer o casal.
O filme está repleto de imagens sombrias e muito bem filmadas, introduzindo uma série de símbolos que tornam a relação da dupla ainda mais complexa. Uma bela narração em off também traduz as fobias e pesadelos de cada um. Com uma conclusão de grande impacto, O Silêncio do Céu deixou os espectadores de Gramado colados à cadeira um bom tempo após o fim da sessão. Não seria uma surpresa se a produção fosse recompensada com os principais prêmios do festival.
Da intenção à realização
Os dois curtas-metragens apresentados em competição oficial seguem a linha deBlack Out, exibido na noite anterior. São projetos de ambições sociais louváveis, perceptíveis inclusive pelos discursos politizados e coesos de seus autores durante a apresentação em Gramado. Mas a tradução destes conceitos em imagens deixou a desejar.
Lúcida, de Caroline Neves e Fábio Rodrigo, retrata em tom semidocumental a crise entre um casal de baixa renda, com dificuldades para criar o filho pequeno. Vídeos amadores, gravados com celular, efetuam uma linha temporal às avessas: vê-se o garoto grande, e depois cada vez mais jovem, até o retorno ao útero.
As dificuldades marcam esta família durante todo o crescimento do garoto. A imagem repetida de um botijão de gás serve a ilustrar a precariedade financeira. Embora o projeto transpareça sinceridade, suas imagens não se desenvolvem para além do conceito inicial.
A Página, de Guilherme Andrade, busca retratar a dificuldade de reinserção de jovens presidiários, através do drama de duas mulheres envolvidas na liberação iminente de um adolescente encarcerado. O discurso contrário à redução da maioridade penal e à estigmatização dos criminosos é respeitável, mas o curta faz uso de recursos melodramáticos um tanto gastos (como os diálogos explicativos), além de apresentar problemas sérios na direção de fotografia e no trabalho de captação e edição de som.
A segunda-feira marca o início da mostra latina do festival, com a exibição dos longas-metragens Las Toninas Van al Este e Espejuelos Oscuros.
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