cantor
norte-americano Al Jarreau, é impossível esconder a satisfação
e mesmo o nervosismo de estar novamente em terras brasileiras. "Estou
feliz, rindo, sorrindo, e cheio de expectativa, alegria. Estou
nervoso, com medo, apavorado", falando de um quarto de hotel em
São Paulo.
"Comecei
ouvindo música brasileira em 1963, com Tom Jobim, Baden
Powell,Sergio Mendes, Milton Nascimento, Ivan Lins. Eles
transformaram minha vida, amo essa música. Por isso é tão
importante para mim vir ao Brasil e tocar onde eu comecei a ser quem
eu sou", afirma o músico, que, além de repetir várias vezes
as palavras "feijoada" e "favela", fala na
terceira pessoa, cantarola clássicos do jazz e imita sons
percussivos com a boca. Uma entrevista com jeito de show.
O
público brasileiro terá a chance de presenciá-lo nesta
quinta-feira (14) em São Paulo, no HSBC Brasil, e no sábado (16) em
Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, onde Al apresentará o repertório
de seu trabalho mais recente, "My Old Friend", um tributo
ao comparsa e lenda do jazz George Duke, morto em outubro de
2013. Com ele, conta, aprendeu a lição mais valiosa da vida: a da
diversidade musical.
"Eu
me defino até hoje pela tradição do Duke. 'Dukey
Stick' [música funkeada de 1978] pode ser considerada quase uma
música clássica, e ele também compôs para orquestra sinfônica.
E, depois disso, foi para uma 'favela' nos Estados Unidos para tocar
com os melhores músicos de funk do mundo, como o George Clinton. Ele
me ensinou essa forma variada de apreciar música", contou Al,
que deu voz às músicas de Duke durante três anos, entre 1965 e
1968, no histórico clube de jazz Half Note, em Nova York.
Tom Jobim, Baden Powell, Sergio Mendes, Milton Nascimento, Ivan Lins. Eles transformaram minha vida. Amo essa música. Por isso é tão importante para mim vir ao Brasil e tocar onde eu comecei a ser quem eu sou
Al Jarreau
Vocalista
habilidoso, dono de um indefectível "scat singing" (o
canto sem palavras), Al Jarreau é a marca da versatilidade. Após
romper barreiras estilísticas com o álbum "Breakin' Away"
(1981), tornou-se o único músico a conseguir vencer Grammys em três
categorias distintas: jazz, pop e R&B. Foram sete no total. Toda
essa bagagem só não lhe permite explicar com precisão o fato de os
homens, como ele, nunca terem competido em pé de igualdade com a ala
feminina do jazz. Historicamente, para cadaLouis Armstrong sempre
houve uma dúzia de Billy Holidays, Ella
Fitzgeralds e Sarah Vaughans.
"Isso é
uma verdade. E simplesmente não sei por que acontece. Durante toda a
minha vida tenho perguntado a Deus sobre isso [risos]. Acho que há
algumas sensibilidades no jazz que talvez sejam difíceis para os
homens, que gostam de futebol e carros rápidos, reproduzirem. Talvez
seja mais difícil para eles se expressarem do que em outros tipos de
música, como o rock and roll, que é mais tangível, mais real."
Sobre
a memorável experiência no Rock in Rio, em 1985, quando se
apresentou para 250 mil pessoas, na noite mais concorrida do
festival, Jarreau prefere lembrar do que viu no encerramento daquele
dia, no show de Jamaes Tylor. "Foi maravilhoso. Nunca havia
visto tantas pessoas cantando junto 'you've got a friend' [canta
imitando Taylor]. Nunca esqueci esse momento. Até os anjos no céu
ouviram as pessoas cantando. É algo que muda a vida. E convidou o
mundo para vir ao Brasil e aprender mais sobre vocês. Vocês nos
ensinaram uma rica lição."
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