Saudada pelo secretário de estado da cultura Vitor Hugo como uma "cidade que faz bem à cultura e ao turismo do Estado", Gramado prepara sua nova festa do cinema preocupada, claro, com os realizadores latinos e brasileiros, mas também com sua própria população. "É uma grande responsabilidade sermos os norteadores dessa referência que Gramado é como modelo de festival de cinema, mas também temos a missão de deixar os gramadenses ainda mais próximos desse evento do qual sempre foram anfitriões ao longo de mais de quatro décadas", ressaltou o diretor de eventos da Gramadotur e coordenador geral do evento Enzo Arns. Ele reforçou ainda mais uma realização da noite especial da programação que traz a exibição dos filmes produzidos no Educavídeo, projeto que usa o cinema como ferramenta de ensino entre os alunos da rede pública da cidade.
De 26 de agosto a 03 de setembro, os holofotes do cinema brasileiro e latino estão em Gramado com mais uma edição do tradicional Festival de Cinema da cidade. A 44ª edição do evento promete - e muitas das novidades do que será apresentado na Serra Gaúcha foram reveladas hoje (20), na coletiva de lançamento realizada na Cinemateca Capitólio, com a presença de autoridades, curadoria, comissão organizadora, imprensa e público em geral.
Apresentando o conceito da edição deste ano, o diretor artístico Edson Erdmann revelou que a ideia da 44ª edição é tornar protagonista da festa todo e qualquer participante do evento. "Este conceito está não apenas no visual e na programação, mas nas próprias conexões que estabelecemos e vamos firmar daqui para frente. Um exemplo desse relacionamento ampliado é o Festival de Sundance, que marcará presença em Gramado com uma comitiva de diretores, atores e compradores", adiantou. Ainda expandindo o protagonismo em suas mais diferentes frentes, o Festival revelou os 24 concorrentes do Prêmio Mostra Assembleia Legislativa - Mostra Gaúcha de Longas, que, nesta edição, tem a novidade de dar maior voz aos realizadores gaúchos com um dia extra de exibição para os filmes realizados no Rio Grande do Sul.
Já com dois grandes nomes confirmados para suas homenagens (enquanto Sonia Braga recebe o Oscarito, Tony Ramos é o ator celebrado com o troféu Cidade de Gramado), o evento serrano apresentou os seis títulos brasileiros que concorrem ao evento, todos inéditos no circuito de festivais brasileiros, com uma seleção que busca a democratização do cinema. "Queremos que o diálogo através dos filmes seja sempre muito aberto em Gramado, tanto com crítica quanto com público", defendeu o curador Marcos Santuario. Seguindo a mesma linha, o também
curador Rubens Ewald Filho destacou um dos pontos mais reveladores da seleção: "Esse é o ano das comédias, e precisamos deixar de ter preconceito com o gênero. Todas sim obras de humor com qualidade. Foi a seleção mais prazerosa de se fazer dos últimos anos".
Entre os filmes estrangeiros selecionados, é possível encontrar um panorama plural do que é realizado atualmente na América Latina, já que nove países estão representados na competição, muitos deles em coproduções. "Esse cinema que apresentamos em Gramado é uma porta que a curadoria abre para reforçar públicos e mercados que o Brasil pode e deve se aproximar", avalia a curadora Eva Piwowarski. O Festival de Cinema de Gramado acontece de 26 de agosto a 03 de setembro.
HISTÓRIA DO FESTIVAL DE CINEMA DE GRAMADO
"E foi lá do fundo, perto da cortina, que ouvi alguém no palco anunciar que 'O Homem da Capa Preta' era o grande vencedor do Festival de Cinema de Gramado... 12 de abril de 1986. Se todas as noites fossem iguais àquela, que maravilha viver!" - Sérgio Rezende
A trajetória do Festival de Cinema de Gramado acompanhou todas as fases do cinema nacional. “Se olharmos para a história do Festival, podemos saber como foi o nosso Brasil e o nosso cinema nos últimos 40 anos", atesta o diretor Fernando Meirelles. Em 1992, com a internacionalização, o evento também passou a fazer um panorama da produção ibero-americana, ampliando seus horizontes cinematográficos. Agora, fortalece a cada ano o título de maior festival de cinema ininterrupto do Brasil, sempre se adaptando a novas tendências do audiovisual e trazendo os novos olhares de um cinema brasileiro contemporâneo e em constante mudança.
Mesmo com as necessárias mudanças, a essência permanece, já que, em quatro décadas, o Festival de Cinema de Gramado foi palco de momentos significativos para a história e a afirmação da arte cinematográfica no país. Tudo começou em 1973, quando o evento foi oficializado pelo Instituto Nacional de Cinema. A primeira edição, que surgiu da união da Prefeitura Municipal de Gramado com a Companhia Jornalística Caldas Júnior, a Embrafilme, a Fundação Nacional de Arte e as secretarias de Turismo e Educação e Cultura do Estado, aconteceu de 10 a 14 de janeiro de 1973, já com a disputa pelo Kikito, o “Deus da Alegria”, cuja estatueta foi criada por Elizabeth Rosenfeld, grande incentivadora do artesanato gramadense.
As primeiras edições, realizadas no verão, foram marcadas por sensacionalismo, nudez e crise de estrelas que buscavam fama e reconhecimento na serra gaúcha. Com a chegada dos anos 1980 e o aprimoramento das discussões sobre arte e cultura nos diversos espaços, o evento conquistou o título de um dos maiores do gênero no País. Já no início dos anos 1990, com a posse do governo de Fernando Collor, o Brasil presenciou um processo de quase extinção da cinematografia nacional. Para sobreviver, o Festival se tornou internacional, já com uma edição ibero-americana. Realizada entre 15 e 22 de agosto de 1992, teve filmes da Venezuela, Peru, México, Portugal, Brasil, Argentina, Chile, Espanha, Cuba e Colômbia. A nova fórmula internacional, inédita no Brasil, foi aprovada, dando novo significado ao evento, agora com sua data fixada sempre na primeira quinzena de agosto.
Com o Festival de Cinema de Gramado, a serra gaúcha se tornou palco de debates e importantes encontros entre artistas, realizadores, estudantes, pesquisadores de cinema, imprensa e público em geral. Importantes nomes do cinema nacional e ibero-americano foram celebrados com Kikitos ou homenageados com troféus como o Oscarito, Eduardo Abelin, Cidade de Gramado e Kikito de Cristal. Othon Bastos, José Wilker, Sônia Braga, Lucélia Santos, Fernanda Torres, Marieta Severo, Hugo Carvana e Marília Pêra são alguns dos atores que têm o Kikito em casa. Em nível internacional, Pedro Almodóvar, Juan José Campanella, Javier Bardem, Marisa Paredes e Norma Aleandro já foram consagrados.
Mais recentemente, na sua edição de 40 anos, realizada em 2012, o Festival se reinventou com um perfil mais democrático e inúmeras mudanças, onde a figura do presidente deixou de existir e as entidades de cinema ganharam maior participação. Outros fatores foram fundamentais na construção da nova fase do Festival de Gramado, como a volta da exibição dos curtas gaúchos no Palácio dos Festivais e ingressos mais baratos para todas as exibições. Em 2014, a Gramadotur, autarquia municipal responsável pela realização dos eventos públicos de Gramado, passa a estar à frente do evento, conferindo mais transparência ao Festival.
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