Perdido em Marte
Previsão de estreia: 1º de outubro
Damon interpreta um biólogo astronauta chamado Mark Watney, membro de uma equipe que estuda o solo em Marte, formada por Johanssen (Kate Mara), Beck (Sebastian Stan), Martinez (Michael Peña), Vogel (Aksel Hennie) e a comandante Lewis (Jessica Chastain). Durante uma tempestade de areia, o grupo é obrigado a evacuar às pressas, mas Mark é atingido por uma antena e fica desacordado. Sem tempo nem visibilidade para procurá-lo e recebendo sinais de que o traje do parceiro fora perfurado, Lewis autoriza a retirada, deixando-o para trás.
Por uma enorme coincidência, porém, Mark consegue sobreviver e, ao acordar, descobre que está sozinho, com suprimento suficiente para poucos meses e um tempo estimado até o resgate de quatro anos. Isso, se ele conseguir se comunicar com a Nasa.
A ironia da situação é explorada com um humor inteligente na primeira parte do filme. Mark, afinal, é uma espécie de herói: o primeiro a pisar em quase qualquer região de Marte, o primeiro a sobreviver por tanto tempo num planeta distante e o primeiro a fazer isso sozinho. Mas essa glória pode significar sua morte, e ele sabe muito bem disso.
Ainda nessa primeira parte, Scott faz uma ode à ciência. “Let’s science the shit out of this”, propõe Mark, o que significa que ele terá que usar seus conhecimentos científicos para sobreviver. Primeiro, ele desenvolve uma plantação de batatas do zero, adaptando uma estufa num dos ambientes da estação – e isso inclui “fazer água” a partir de processos químicos. Depois, adapta o trator para alcançar distâncias muito maiores e descobre uma forma (muito bem sacada) de se comunicar com a Terra.
Para o espectador leigo, as primeiras perguntas começam a aparecer por aí: Mark precisa viajar porque o local de pouso para a próxima missão fica a mais de 3 mil km dali – isso faria sentido se ele não conseguisse contatar a Nasa (a outra nave viria de qualquer forma), mas, caso contrário, o resgate não iria até a base dele? Por quê?
Questões como essa surgem às dúzias, especialmente na segunda parte, quando a Nasa começa a avaliar suas opções e enviar instruções para o “marciano”. Em nossas humildes poltronas, sentimos que sabemos muito pouco para compreender todas as decisões tomadas pelos personagens – lembrando que a ciência, para uma ficção científica, é muito mais uma questão de convencimento do que de explicação propriamente dita.
“Perdido em Marte” aproveita o embalo de sucessos espaciais como “Gravidade” e “Interestelar”, mas erra em dois pontos que seus antecessores acertaram: apresenta uma ciência pouco clara para o espectador (talvez um problema da adaptação) e não explora suficientemente o lado humano da situação.
O segundo ponto é, provavelmente, o mais importante. Damon segura bem o papel do astronauta solitário, mas suas expressões não transmitem o grau de desespero, medo, raiva, fome ou até loucura que poderiam/deveriam aparecer em algum momento num homem isolado por mais de um ano num planeta deserto. Além disso, quase nenhuma menção é feita sobre quem estaria esperando por ele na Terra.
O filme tem um elenco coadjuvante de dar inveja – além dos astronautas, Chiwetel Ejiofor, Kristen Wiig, Mackenzie Davis, Donald Glover, Jeff Daniels e Sean Bean (dono da melhor piada interna em todo o filme) garantem um núcleo terrestre tão forte quanto o espacial. Infelizmente, todo esse talento é pouco aproveitado: falta emoção, falta conflito. Nem parece que o resgate de um único homem pode envolver riscos, milhões de dólares e dilemas morais, políticos e até espirituais. Por mais que alguns diálogos tentem dar conta dessa complexidade, tudo é fácil demais. Todos são corretos demais.
O filme chega aos cinemas no dia 1º de outubro, com cópias em 3D (o que não é tão necessário, mas também não incomoda), e é uma opção interessante para fãs de sci-fi. Para quem procura uma experiência mais intensa, porém, para sair com olhos marejados ou ir para o bar discutir teorias com os amigos, este talvez não seja o filme ideal. Vá para se divertir.
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