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terça-feira, 26 de julho de 2016

Beleza da obra de Aragão esta no 'Sambabook'




Jorge Aragão não ganhou por acaso o epíteto de O poeta do samba. Criado com parceiros afins, como Dona Ivone Lara e Sombrinha, o cancioneiro do compositor carioca prima pelo forte acento melódico e pelo tom poético das letras que versam sobre amor, desamor, orgulho negro e o próprio samba. Entre altos e baixos, as 25 gravações do Sambabook Jorge Aragão - projeto idealizado pela empresa Musickeria para celebrar os 40 anos de carreira do artista, revelado em 1976 na voz de Elza Soares - reiteram a beleza da obra do compositor.



Até justificável pelo caráter documental do projeto, o tom reverente do Sambabook - série que está na quinta edição, já tendo homenageado bambas como João Nogueira (1941 - 2000), Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e Ivone Lara - dificulta a busca de outros caminhos pelos intérpretes convidados a regravar o repertório do compositor.

 Fernando Miranda/.Divulgação
Além da reverência, a distribuição das músicas revela eventual preguiça dos cantores e/ou do produtor Alceu Maia e do diretor artístico Afonso Carvalho. Beth Carvalho, por exemplo, regrava Pedaço de ilusão (Jorge Aragão, Sombrinha e Jotabê, 1981), samba que já lançara há 35 anos no álbum Na fonte. Da mesma forma, Zeca Pagodinho eleva Quintal do céu (Jorge Aragão e Wilson Moreira, 1986) em tom similar ao da gravação original, feita pelo próprio Zeca há 30 anos no primeiro álbum solo do artista. Sem falar em Maria Rita, que dá voz ao mesmo samba Do fundo do nosso quintal (Jorge Aragão e Alberto de Souza, 1987) que já vinha cantando no show Coração a batucar (2014 / 2015) e que registrou nos recém-lançados CD e DVD O samba em mim - Ao vivo na Lapa (2016).


Nome surpreendente da escalação, Baby do Brasil parece cantar Malandro (Jorge Aragão e Jotabê, 1976) em total reverência a Elza Soares, intérprete original do samba. Baby simula as modulações e o timbre rouco de Elza. Sempre no limiar entre o samba e o pagode romântico, Diogo Nogueira impressiona pela voz extremamente bem colocada na interpretação de Eu e você sempre (Jorge Aragão e Flávio Cardoso, 2000), sucesso do grupo Exaltasamba.


E por falar em Exaltasamba, Péricles confirma que é do ramo ao cantar Lucidez (Jorge Aragão e Cleber Augusto, 1991) enquanto Ivan Lins ficou com o mérito de reimprimir Alvará (Jorge Aragão, 1992), samba que até nunca tinha ganhado outra voz que não a do próprio Aragão.


Em que pese a autoridade de bamba, ou talvez mesmo por causa dela, Martinho da Vila soa protocolar em Coisa de pele (Jorge Aragão e Acyr Marques, 1986), samba-manifesto que documentou a explosão do pagode em meados da década de 1980. Elza Soares põe mais vitalidade em Identidade (Jorge Aragão, 1992), exalando orgulho negro enquanto denuncia cotidianas injustiças raciais. Com propriedade, Seu Jorge também eriça o orgulho negro deCabelo pixaim (Jorge Aragão e Jotabê, 1978). 

Orgulhosa da origem maranhense, Alcione refaz com brilho o menos inspirado trajeto melódico do samba De Sampa a São Luiz (Jorge Aragão, Paulo César Feital e Flávio Cardoso, 1996). Luiz Melodia também faz bonito, pondo certo suingue em Logo agora (Jorge Aragão e Jotabê, 1989), embora o veludo da voz do cantor carioca já esteja menos macio. E por falar em voz, Vander Lee não tem cacife para erguer Mutirão de amor (Jorge Aragão, Zeca Pagodinho e Sombrinha, 1983) na altura da gravação antológica de Alcione, intérprete original do samba regravado por Lee em prudentes tons menores.


Já o rapper Emicida encara Moleque atrevido (Jorge Aragão, Flávio Cardoso e Paulinho Resende, 1998) com naturalidade, mostrando que sabe pisar com firmeza no terreiro em que o Fundo de Quintal - intérprete certeiro de Resto de esperança (Jorge Aragão e Dedé da Portela, 1980) - é rei, como um dia foi rei o 'menino' Roberto Ribeiro (1940 - 1996), cantor que lançou este que é um dos mais belos sambas da lavra de Aragão.


Intérprete original de Enredo do meu samba (Jorge Aragão e Ivone Lara, 1989), que desfila sem empolgação na voz de Jorge Vercillo, Sandra de Sá faz Borboleta cega (Jorge Aragão e Nilton Barros, 1981) voar no tempo poético e melódico do samba de Aragão. Voz do funk mais pop da atualidade, Anitta não se compromete ao expor a graça de Coisinha do pai(Jorge Aragão, Almir Guineto e Luiz Carlos Chuchu, 1979) com arranjo que evoca a gravação original de Beth Carvalho, também a primeira intérprete de Toque de malícia (Jorge Aragão, 1984), samba carnavalesco que ganhou a voz de Lenine, assíduo frequentador da quadra do bloco Cacique do Ramos no início da década de 1980.


O arranjo da gravação de Lenine também remete ao registro de Beth, evidenciando a excessiva reverência que pauta o documental projeto Sambabook Jorge Aragão. Contudo, a beleza melódica e a poética popular da obra do grande compositor pairam acima de tudo e todos.
Fonte G1

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