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segunda-feira, 27 de julho de 2015

28 anos sem clementina de Jesus.





A vida de Clementina de Jesus tinha tudo para ser igual à de milhões de pobres brasileiros se não fossem a sua insistência em cantar, a sua voz e o destino. Ainda menina, aprendeu com a mãe os cantos de trabalho, jongos (cantados na língua africana bantu) e pontos de umbanda e candomblé, ao mesmo tempo em que fazia parte do coro de uma igreja católica. Isso faz com que sua voz trovejante representasse a mistura de credos e raças do país, especialmente no cenário do começo do século 20, com a nossa cultura popular ainda sob forte influência africana. Seu pai foi mestre de capoeira e violeiro.

Com apenas dez anos, foi morar com a família em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro. Um vizinho, que sempre escutava a menina Clementina de Jesus cantando dentro de casa, ofereceu para a garota o papel de solista em procissões e festas religiosas.

Aos 12 anos, o final dos anos 20, passou a frequentar blocos de Carnaval que, depois, seriam transformados em escolas-de-samba. Desfilava no Bloco Moreninhas das Campinas. Três anos depois, já cantava no coro de uma das muitas igrejas do bairro de Oswaldo Cruz. Por essa época, freqüentava as rodas de samba na casa de Dona Maria Nenê. Mais tarde, foi para o Grêmio Recreativo e Escola de Samba Portela.




Após a morte do pai, a situação financeira da família ficou muito complicada e Clementina de Jesus não teve outra alternativa a não ser trabalhar como empregada doméstica, lavadeira e passadeira. Durante mais de 20 anos, esta foi a atividade que a sustentou. 



Pouco tempo antes de morrer, em um depoimento, Clementina de Jesus disse que todos os integrantes da casa onde trabalhou como empregada doméstica gostavam de ouvi-la cantar, com exceção da proprietária, que dizia que a sua voz era irritante, por parecer um miado de gato. Depois de dois casamentos, um deles com Albino Correia da Silva, o Pé Grande, um torcedor fanático da escola de samba da Mangueira, o destino bateu à porta de Clementina de Jesus e a empregada doméstica deu lugar a uma cantora que marcou época na música popular brasileira. 





Seu canto rouco e quase falado, fora dos padrões estéticos, conquistou a crítica, compositores, artistas e, principalmente, o povo. Um dos retratos do sincretismo brasileiro, Clementina de Jesus estabeleceu uma ponte entre o folclore dos terreiros de candomblé com a linguagem contemporânea. Finalmente, em 1964, quando já contava com 62 anos, a cantora teve a sua grande oportunidade profissional. 





O compositor e produtor Hermínio Belo de Carvalho, que já tinha visto Clementina de Jesus se apresentar em bares do Rio de Janeiro, convidou-a para fazer alguns shows. No dia 7 de dezembro do mesmo ano, depois de ouvir um recital clássico (Mozart e Villa-Lobos), o público que lotava o Teatro Jovem, em Botafogo, ficou assustado ao ver entrar no palco uma cantora de voz anasalada, acompanhada por Paulinho da Viola, César Faria e Elton Medeiros. 




O sucesso foi imediato, a ponto de Hermínio Belo de Carvalho criar o musical "Rosas de Ouro", que percorreu as principais capitais brasileiras. Chamada de "Tina" ou "Quelé" pelos amigos, Clementina de Jesus gravou mais de 120 músicas e participou de discos de outros artistas, como Milton Nascimento, por exemplo. 




O compositor Paulinho da Viola, que teve duas músicas de sua autoria, "Essa Nega Pede Mais" e "Na Linha do Mar" incluídas no disco "Marinheiro Só", e com essa bela interpretação, que Tuta e Nilton Travesso começam esta edição de Dois diretores em cena, feita em homenagem a Clementina de Jesus. A cantora, chamada de “dama do samba”, ficou também conhecida como a Rainha Ginga ou Quelé. A primeira homenagem foi dada devido a sua importância e grandeza na música popular, e a segunda devido à corruptela carinhosa de seu nome.

fez sua primeira gravação, ao vivo, somente aos 63 anos de idade, em 1964.

Durante sua vida, recebeu várias homenagens, entre elas a do então Secretário de Cultura do Estado do Rio de Janeiro, Darcy Ribeiro, no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro, em agosto de 1983. O evento contou com a presença de várias personalidades e artistas, como João Nogueira, Beth Carvalho, Paulinho da Viola, Elizete Cardoso, Orquestra Sinfônica Brasileira, Ala das Baianas de várias escolas de samba, Gilberto Gil, Dona Zica, Dona Neuma, mestres-salas e porta-bandeiras, acompanhados pela bateria da Escola de Samba Estação Primeira da Mangueira.

Em 1985, recebeu do governo francês, através do Ministro da Cultura Jack Lang, a "Comenda da Ordem das Artes e Letras", com a presença de Jorge Amado, Caetano Veloso e Milton Nascimento.

"Tudo o que se fala de Clementina de Jesus não tem a dimensão da presença dela”. Ouvi-la cantando, sentada, com o seu vestido de renda, era algo absolutamente fascinante, difícil de transmitir, de traduzir em palavras.

" Pobre, Clementina de Jesus morreu aos 85 anos, no dia 19 de julho de 1987”.



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