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quinta-feira, 17 de março de 2016

Elis Regina: A cantora, que nos deixava há 34 anos, Ontem (17) faria 71 anos. leia um pouco da sua história.

























         Elis Regina em julho de 1981


Na manhã de 19 de janeiro de 1982,Elis Regina foi encontrada caída no chão de seu apartamento no Jardim Paulista, bairro nobre de São Paulo, pelo então namorado, o advogado Samuel MacDowell. Levada ao vizinho Hospital das Clínicas, já chegou sem vida. A causa da morte: uma mistura letal de cocaína e álcool. Ela tinha apenas 36 anos.

Na época, os familiares de Elis contestaram o laudo médico, na tentativa de proteger sua imagem. "Ela foi vítima de uma overdose. Não há mistério. Não há polêmica", afirma Regina Echeverria, amiga da cantora e autora da biografia "Furacão Elis". "Eu sei que a família não gosta de discutir esse assunto. Mas não podemos mentir sobre a morte dela".

Na noite anterior à sua morte, Elis e MacDowell haviam recebido amigos no apartamento da rua Melo Alves. Os convidados saíram por volta das 21h e MacDowell, algumas horas depois - Elis queria ficar sozinha para ouvir músicas do disco que se preparava para gravar. Mais tarde, ela e o namorado ainda conversaram rapidamente por telefone.

Na manhã seguinte, eles voltaram a falar por telefone. Ao final da conversa, MacDowell preocupou-se porque Elis começou a dizer palavras ininteligíveis. Pegou um táxi para o apartamento e só conseguiu encontrar Elis depois de arrombar duas portas - ela estava trancada no quarto. Após tentativas frustradas de reanimar a cantora e chamar uma ambulância, decidiu levá-la ao hospital de táxi.



Corpo de Elis Regina é velado no Teatro Bandeirantes

O resultado da autópsia, apontando a mistura de cocaína e álcool como causa da morte, veio dois dias depois. "Foi um choque porque a Elis era preconceituosa com drogas. Ela usou por um período curto e intenso", conta Regina Echeverria. Seu corpo foi velado no Teatro Bandeirantes, em São Paulo, mesmo local em que havia apresentado seu show mais marcante, "Falso Brilhante", entre 1975 e 1977.

Terminava assim a vida daquela que, havia quase duas décadas, era considerada a maior cantora do Brasil.

Nascida em 17 de março de 1945 em Porto Alegre, Elis Regina Carvalho Costa começou a cantar aos 11 anos, em programas de rádio. Entre 1961 e 1963, lançou quatro discos, mas só começou a fazer sucesso quando deixou o Rio Grande do Sul, em 1964.

No ano seguinte, veio o estouro nacional: interpretando "Arrastão", de Edu Lobo e Vinicius de Moraes, Elis venceu o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Foi convidada por Solano Ribeiro, diretor do evento. Ele a viu pela primeira vez no lendário Beco das Garrafas, principal palco da bossa nova no Rio de Janeiro. "Foi uma coisa impactante", lembra.


Solano desmente a lenda de que Elis era uma completa desconhecida antes daquele festival. "Ela já fazia muitos shows em São Paulo e no Rio e também fazia bastante sucesso com [a música] 'Menino das Laranjas'. Foi absolutamente natural que ela cantasse no festival", explica. "Como ela já vinha cantando músicas do Edu Lobo, achei que ela se sairia muito bem com 'Arrastão'."



Elis Regina em 1981Saiu-se tão bem que ganhou o primeiro lugar. Ganhou também o maldoso apelido de "eliscóptero", por cantar balançando os braços. Até o final dos anos 1960, participou de mais cinco festivais, quatro como intérprete e uma como integrante do júri. Em 1967, ganhou o prêmio de melhor intérprete, com "O Cantador". Em 1968, venceu a primeira Bienal do Samba, com "Lapinha".
Nessa mesma época, liderou uma passeata contra a presença de guitarras na música brasileira. Pouco depois, gravou uma série de discos cheios de guitarras. No começo dos anos 1970, cantou o hino nacional nas comemorações dos 160 anos da Independência do Brasil capitaneadas pela ditadura militar. Nos anos seguintes, deu voz a músicas que criticavam essa mesma ditadura.


Gênio Forte

Contraditória? Elis era assim. Sua personalidade misturava coragem e insegurança em doses iguais. "Ela se arriscava sem medo", recorda Guilherme Arantes. Ele e Elis tiveram um curto romance no início dos anos 1980, após a cantora terminar seu casamento com o músico Cesar Camargo Mariano. "Foi uma época conturbada. Ela tinha acabado de se separar, eu também. Não era o momento", diz.

Sua coragem se manifestava, por exemplo, nas apostas em compositores até então desconhecidos (Milton Nascimento e João Bosco são dois exemplos) e na decisão de ter total controle sobre sua carreira. "É preciso contextualizar. Na época, ainda havia muito preconceito contra as mulheres. Os executivos das gravadoras eram extremamente machistas. E ela combatia tudo isso", explica Guilherme.


Solano Ribeiro define assim a personalidade de Elis: "Ela não se conformava". Daí vêm as incontáveis histórias sobre o gênio forte da cantora, que lhe valeram o apelido de "Pimentinha". "Você realmente não podia pisar no calo dela", reconhece Regina Echeverria. Para Renato Teixeira, de quem Elis gravou "Romaria", a fama é injusta. "Ela só brigava quando tinha um bom motivo", diz.

Insegurança

Muito da imagem de briguenta vinha de pura insegurança. Elis era competitiva ("Ela não admitia estar em segundo lugar", define Solano Ribeiro) e, por isso, vivia em constante receio de não ser a melhor. Daí vinha a possessividade com compositores e músicos - o baterista Dudu Portes, por exemplo, lembra que Elis proibia que sua banda tocasse com outros artistas, em especial cantoras.

Talvez a melhor forma de definir Elis Regina seja através de frases da própria Elis Regina. "Morro de medo. Faço todos os espetáculos me borrando de medo. Todos os dias", disse certa vez. Em outra oportunidade, afirmou: "Se ser geniosa, exigente e não gostar de ser passada para trás é ser mau caráter, então eu sou". Ou então: "Sempre vou viver como kamikaze. Isso me faz ficar de pé."

Elis Regina: uma "garimpeira" da música brasileira

Cantora impulsionou a carreira de compositores como Guilherme Arantes e Renato Teixeira, Milton Nascimento, João Bosco, Gilberto Gil, Renato Teixeira, Ivan Lins e muitos outros. Elis Regina praticamente não tem rivais quando o assunto é revelar grandes compositores - na música brasileira, talvez só Nara Leão tenha um currículo tão impressionante. O título de melhor cantora do Brasil fazia com que muitos autores a procurassem. Mas o mais comum era a própria Elis buscar repertório.

Ela corria atrás", resume Guilherme Arantes . Em 1980, ele teve duas canções gravadas pela artista, "Aprendendo a Jogar" e "Só Deus É Quem Sabe".

"Um dia tocou o telefone. Era a Elis. Ela falou: 'Eu sou a Elis Regina e quero uma música'. Na hora fui para o Rio de Janeiro encontrá-la", conta. "Ela me deu uma tarefa: fazer uma canção para estourar nas rádios". O resultado foi "Aprendendo a Jogar".

Renato Teixeira conta uma história parecida. "Eu tinha uma produtora de jingles que ficava em frente ao Teatro Bandeirantes, na época em que ela apresentava o show 'Falso Brilhante' lá", lembra. "Como os músicos da banda dela gravavam os jingles comigo, a gente acabou se conhecendo. Um dia, ela me disse que estava preparando um disco e me pediu algumas composições. Eu deixei uma fita com oito músicas com ela."

Uma das músicas era "Romaria", que Elis gravou em 1977 e transformou-se num dos pontos altos de sua carreira. O contato com Elis mudou a vida de Renato.

aquela época, eu havia desistido da carreira musical e virei publicitário. Estava compondo para mim mesmo, sem preocupação se ia fazer sucesso ou não", explica. "Depois do sucesso de 'Romaria', eu me tornei um nome conhecido e apareceram convites para gravar meus próprios discos."

No caso de Guilherme Arantes, o impacto também foi grande. Ele já era um cantor conhecido no Brasil por causa de músicas como "Amanhã", mas após passar pela voz de Elis ele mudou de patamar.



"Ela deu um upgrade na minha carreira. E na minha vida", afirma. "De repente, as portas se abriram. Outras cantoras passaram a me procurar. E pessoas que não respeitavam o meu trabalho passaram a respeitar."
Para Guilherme, Elis foi a maior "garimpeira" da música brasileira. Já Renato enaltece o sua "sensibilidade aguçadíssima" para escolher o que cantar. Entre as pessoas que tocaram com ela, os elogios também são a norma. "Ela deixava os músicos criarem. Por isso mesmo, ela também apertava. Exigia conhecimento e criatividade, porque na hora H ela te largava sozinho para se virar", diz Dudu Portes, baterista da cantora nos anos 1970.


O reverso da moeda era a possessividade de Elis. "Ela falava: eu revelei, eu criei, eu inventei", explica Dudu. "Era tão apegada que, quando descobria que estávamos fazendo gravações para outros artistas, ficava com um bico enorme. Teve até caso de entrar em estúdio e rodar a baiana", completa. "Era um amor possessivo, mas muito gostoso. Com a Elis, a coisa era de verdade. Tanto que todo mundo queria tocar com ela."



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