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domingo, 14 de fevereiro de 2016

Festival de Fuscas e sua história.


A origem da origem do Fusca: como um engenheiro judeu pode ter ajudado a criar o “carro do povo”

A origem da origem do Fusca: como um engenheiro judeu pode ter ajudado a criar o “carro do povo”
O dia 20 de janeiro, também conhecido como “hoje”, é o Dia Nacional do Fusca (não confundir com o Dia Mundial do Fusca, que é comemorado em 22 de junho). Sendo um site sobre cultura automotiva, o FlatOut! não pode deixar de celebrar a história do Carro do Povo. Quer dizer, a verdadeira história — a origem da origem do Fusca, se quiser.
Não estamos falando de uma verdade absoluta, e sim de uma história alternativa, contada pelo jornalista e pesquisador holandês Paul Schilperoord. Schilperoord se interessou pelo trabalho do engenheiro e jornalista alemão Josef Ganz e por sua história, e acredita que o trabalho de Ganz, especialmente um protótipo chamado Maikäfer, foram fundamentais pra que Ferdinand Porsche concebesse o carro que daria origem ao Fusca.
A atividade principal de Ganz era o jornalismo automotivo. Em meados da década de 1920, ele era o editor-chefe de uma publicação chamada Motor-Kritik que, como o nome diz, trazia uma visão sincera e, muitas vezes, incisiva a respeito da indústria automotiva alemã — talvez até demais, acusando os carros alemães fabricados por empresas como a BMW e a Mercedes-Benz, de serem perigosos ao volante e pouco eficientes, ao mesmo tempo em que oferecia consultoria técnica a estas e outras marcas menos conhecidas, como a extinta Standard.
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Nos primeiros anos a revista se chamava Klein MotorSport
Esta prática acabou sendo sua ruína. Em 1931 o nazismo já tinha muita força e dois anos depois Adolf Hitler se tornaria o novo chanceler da Alemanha. Naquele ano, uma publicação da Propaganda nazista acusou Josef, que era judeu, de usar seus artigos na Motor-Kritik para intimidar os fabricantes e forçá-los a contratá-lo como consultor técnico. Não por acaso, Josef Ganz também era engenheiro e detentor de algumas patentes de sistemas de direção, suspensão e outros sistemas que poderiam ter aplicações automotivas.
Com as acusações, Ganz precisou deixar o cargo de editor-chefe da revista. Na época, segundo Schilperoord, Ganz era um dos únicos defensores da ideia de que um carro popular ideal teria motor traseiro refrigerado a ar, carroceria sobre um chassi do tipo espinha dorsal. Além disso, Ganz era amigo de Paul Jaray, projetista austríaco de aviões e dirigíveis.
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Coincidentemente, Jaray foi um dos primeiros a aplicar a fundo o princípio da aerodinâmica em automóveis, e um de seus projetos mais famosos é o Tatra T77 , feito em conjunto com Hans Ledwinka. Como já dissemos aqui, é amplamente aceito que estes e outros modelos da Tatra tiveram influência no projeto de Ferdinand Porsche para o Beetle. Acredita-se até que o próprio Professor admitiu a inspiração, e ainda disse que era recíproca.
Acontece que, em seu livro The Extraordinary Life of Josef Ganz – The Jewish Engineer Behind Hitler’s Volkswagen, publicado no Brasil com o provocativo título “A Verdadeira História do Fusca — Como Hitler se Apropriou da Invenção de um Gênio Judeu” pela Editora Alaúde, Schilperoord sugere que a inspiração para Porsche veio de outro lugar: o protótipo Maikäfer de Josef Ganz.

Professor Porsche e o outro besouro

Porsche_Rosenberger_Maikafer_1931Maikäfer significa “besouro-de-maio”, uma espécie de besouro encontrado principalmente em território português, e foi este o apelido escolhido por Ganz para seu protótipo de “carro do povo” — a expressão Volkswagen era bastante comum naquela época. Na verdade, vários engenheiros jovens e empolgados se inspiraram em Henry Ford e tentaram criar “carros do povo”; meios de transporte práticos, eficientes e acessíveis ao homem comum.
Desenvolvido com o apoio da Adler, fabricante alemã fundada em 1900 e extinta em 1957, o protótipo com motor traseiro, suspensão independente era compacto e, de fato, parecia um besouro. Como ficou pronto em maio de 1931, o pequeno roadster de motor traseiro refrigerado a ar e suspensão traseira independente por eixos flutuantes recebeu o nome de Maikäfer.
E foi o Maikäfer que, segundo documentos encontrados por Schilperoord, Ferdinand Porsche teria ido ver quando visitou Josef Ganz em outubro de 1931, semanas antes de projetar um protótipo para a Zündapp — que, vejam só, tinha um conceito bem semelhante ao do Fusca, com exceção do motor que, em vez de um boxer de quatro cilindros refrigerado a ar, era um radial de cinco cilindros por exigência da Zündapp.
Em 1932 havia três protótipos funcionais que foram perdidos em um dos últimos bombardeios da Segunda Guerra, em 1945. O carro da foto abaixo, no museu industrial de Nuremberg, na Alemanha, é uma reconstrução.
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Três anos depois, Porsche seria contratado por Adolf Hitler para projetar o carro do povo — o nome Volkswagen acabou sendo adotado pelo modelo anos mais tarde. Àquela altura, o nome de Josef Ganz já era passado — um de seus rivais na Motor-Kritik, Paul Ehrhardt,  é apontado pelo pesquisador holandês como o autor da denúncia contra Ganz aos nazistas. Em 1931 ele precisou deixar o cargo de editor-chefe da revista e, em março de 1933, foi preso.
Depois de solto, Ganz mudou-se para a Suíça, mas não sem antes ser censurado pelo partido nazista, que proibiu qualquer publicação alemã de usar seus textos e o impediu de patentear qualquer tipo de inovação tecnológica. Schilperoort acredita que, assim, Hitler pôde usar o trabalho de Porsche sem dar créditos a Ganz, que raramente é lembrado na história do Fusca.
Uma das evidências de que Porsche visitou Ganz foi apresentada por um colega dele na redação da Motor-Kritik, Georg Ising. Em um artigo publicado em fevereiro de 1934, Ising apresenta evidências fotográficas com imagens daquele que seria Ferdinand Porsche ao volante do Maikäfer:
Este ao lado dele seria Adolf Rosenberger, que foi um dos projetistas do Auto Union Type C, de 1936 — que, de acordo com Scilperoord, também teve influências do Maikäfer em seu design.
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Naturalmente, nada disto foi provado e a “malandragem” dos nazistas não é muito bem aceita pelos fãs do besouro — na verdade, a associação do Fusca com Adolf Hitler jamais foi digerida pelos entusiastas, que preferem esquecer esta parte da história. Vai ver é por isso que sempre surgem versões alternativas, como esta.
De qualquer forma, o legado do Fusca é muito maior e mais bonito do que sua origem obscura, e é dele que precisamos lembrar.








































































































 










































 










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