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domingo, 13 de novembro de 2016

16 anos sem João Nogueira,“sambista de calçada”

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Uma das almas mais boêmias do Rio de Janeiro, um autêntico “sambista de calçada”, como ele próprio se definiu, João Nogueira foi uma das fiéis traduções da malandragem carioca. Nascido em berço de bamba, portelense, flamenguista, engajado na preservação das tradições do samba, deixou sua marca como uma das referências do gênero no cenário musical do Brasil.
João Batista Nogueira Júnior nasceu em 12 de novembro de 1941, no Méier, bairro da Zona Norte carioca. Filho do compositor João Batista Nogueira, ele iniciou seu convívio com a música ainda criança, acompanhando os encontros de seu pai com Pixinguinha, João da Baiana e outros compositores da velha guarda. Aos 10 anos, começou a tocar violão, e aos 13, já fazia composições com a sua irmã, Gisa Nogueira.
Com a morte do pai, João Nogueira precisou trabalhar para ajudar a sustentar a casa, mas a música não foi deixada de lado. Aos 15 anos, já compunha sambas para blocos carnavalescos do Rio de Janeiro, e, ainda jovem, passou a frequentar o bloco “Labareda do Méier”, do qual viria a se tornar diretor. Suas inspirações vinham do universo boêmio e do povo das ruas, definindo as suas canções como “sambas de calçada”.
Não demorou muito para que suas composições começassem a despertar a atenção de grandes nomes da música. Em 1969, Elizeth Cardoso gravou “Corrente de aço”, atraindo os olhares da crítica musical para as obras de João Nogueira. Em 1971, Eliana Pittmam gravou a música “200 pra lá”, que teve repercussão internacional, já que sua letra defendia a expansão da nossa fronteira marítima. Seu primeiro LP solo, batizado com o seu nome, foi lançado em 1972. Mas foi com o lançamento do disco “E lá vou eu”, em 1974, e a gravação do sucesso “Batendo à porta”, que o som do artista estourou em todo o Brasil.
Em sua carreira, ele lançou 18 discos e emplacou mais de 300 composições. Um de seus maiores sucessos foi “Espelho”, do álbum homônimo, escrito em homenagem ao seu pai, em 1977. No álbum “Além do espelho”, de 1992, o samba de mesmo nome - com a repetição do famoso verso “meu medo maior é o espelho se quebrar” - foi dedicado aos seus filhos.
Em 1971, João Nogueira passou a integrar a famosa ala de compositores da Portela, sua escola de samba de coração, após vencer, com a composição “Sonho de bamba”, um concurso promovido pela agremiação. Apesar de não ter emplacado nenhum samba-enredo nos seus desfiles, seu amor pela escola foi gravado em sambas de exaltação – como “Eu sei, Portela” e “O passado da Portela” - em co-autoria com o amigo e principal parceiro, Paulo César Pinheiro. Em 1975, João Nogueira lançou a música “O homem de um braço só’’, no disco “Vem que tem’’, em homenagem ao presidente da escola na época, Natalino José do Nascimento, o Natal da Portela.
Além da paixão pelo samba, João Nogueira era fanático por futebol. Torcedor apaixonado do Flamengo, era figura fácil nos jogos do clube. 
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Em 1979, regravou com sucesso o famoso samba de Wilson Batista, o ''Samba rubro-negro'', exaltando o seu grande amor pelo clube.
No início dos anos 80, após desentendimentos na Portela, um grupo de integrantes da escola, incluindo João Nogueira, desligou-se da agremiação, fundando, em 1º de outubro de 1984, a escola de samba “Tradição”. Nos primeiros anos, os seus sambas-enredo foram compostos exclusivamente por João Nogueira e Paulo César Pinheiro, até a criação da ala de compositores e do primeiro concurso para escolha de samba-enredo, para o carnaval de 1990. Em 1987, com “Sonhos de Natal”, a dupla foi agraciada com o Estandarte de Ouro do GLOBO de melhor samba do grupo de acesso. Anos depois, João se reconciliou com a Portela e, a partir de 1995, voltou a participar dos desfiles da escola como figura de destaque.
Em 1979, preocupado com o desvalorização do samba no cenário musical brasileiro, João fundou o “Clube do Samba”, com a participação de sua irmã, Gisa Nogueira, do escritor, pesquisador e jornalista Sérgio Cabral, do compositor Paulo César Pinheiro, da cantora Clara Nunes e outros nomes de peso do samba. A primeira sede do Clube foi na própria residência de João Nogueira, no Méier. Após a decisão do sambista se mudar para o Recreio dos Bandeirantes, em busca de maior tranqüilidade, sua sede passou pelo Flamengo, Morro da Viúva, Botafogo, Clube Municipal da Tijuca e Barra da Tijuca, sua última sede, em 1986.


Entre suas atividades estava a produção de um jornal com notícias sobre o samba e a realização periódica de um baile, frequentado por grandes nomes do gênero, como Beth Carvalho, Martinho da Vila, Chico Buarque e Paulinho da viola. Em pouco tempo, o Clube se transformou em bloco carnavalesco, arrastando amantes do carnaval e do samba em seu desfile na Avenida Rio Branco. Apesar de ter modificado um pouco o seu perfil nos anos seguintes, sobreviveu como um dos marcos de resistência do samba carioca, promovendo rodas de samba, ensaios e desfiles carnavalescos, graças principalmente à família de João Nogueira, que abraçou o projeto, mantendo vivo o seu sonho.
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João Nogueira também prestou sua contribuição ao cinema nacional: em 1984, interpretou o personagem Rufino, um capitão do mato, no filme “Quilombo”, sobre a história de Zumbi dos Palmares, dirigido por Cacá Diegues. A obra recebeu indicação à Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 1984, e foi premiada no mesmo ano nos festivais de Miami, nos Estados Unidos, e Cartagena, na Colômbia.
No início de 1998, o compositor sofreu um grave derrame, mas conseguiu se recuperar:
- Sou escorpião brabo. Não caio fácil, entendi tudo isso como um aviso..
Porém, nos anos seguintes, sua saúde ficou mais debilitada. Depois de novos problemas, como uma isquemia cerebral e um acidente vascular cerebral, João Nogueira morreu em 5 de junho de 2000, vítima de um infarto fulminante em casa, durante a madrugada.

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Aos 58 anos, deixou a esposa, Ângela, com quem casou em 1975, e quatro filhos: Diogo, Clarisse, Tatiana e Iara Valéria Nogueira. Diogo Nogueira seguiu os passos do pai e fez carreira musical dentro do samba. Foi ele também que - ao lado de sambistas como Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, Dona Ivone Lara e Arlindo Cruz -, assumiu a conclusão do projeto de um disco ao vivo que João deixara em aberto. Assim, em 2001, foi lançado o disco “João Nogueira, através do espelho’’, contando com participações especiais.
Desde então, João Nogueira passou a ser lembrado e homenageado por grandes nomes da música e do samba, tendo suas obras eternizadas em discobiografia, sambabook e regravações de suas composições. Em 12 de junho de 2012, a casa de espetáculos “Imperator”, no Méier, foi reinaugurada com o nome de “Centro Cultural João Nogueira”, após 16 anos fechada. Em 2016, ano do centenário do samba, quando João Nogueira completaria 75 anos, novas homenagens ao sambista foram programadas, como a realização de uma roda de samba na data de seu aniversário, na quadra da Portela; além de um desfile carnavalesco em sua memória, como enredo da Acadêmicos do Cubango, no Grupo de Acesso, em 2017.

Show. João Nogueira em apresentação no Rio: nascido no Méier, Zona Norte, ele se definia como um “sambista de calçada”
Show. João Nogueira em apresentação no Rio: nascido no Méier, Zona Norte, ele se definia como um “sambista de calçada” Novembro de 1990

Assista trechos do último show de João Nogueira e da primeira apresentação de Diogo Nogueira no episódio "De pai para filho: João Nogueira e Diogo Nogueira", do Musicograma:


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